Paulo Viveiro - Porquê Estudar

12 DICAS PARA MÚSICOS QUE DESEJAM TOCAR EM GRUPOS SINFÔNICOS


Em 1926, saiu a primeira edição do "36 Études Transcendantes pour Trompette", escrito pelo belgo Théo Charlier.

Bem, se você não é instrumentista de metal talvez nunca tenha ouvido falar nesse nome.

Mas Theophile Noel Charlier (1868-1944), foi um super trompetista do século passado, que teve sua vida musical descrita como: diversa, inovadora e visionária.

Ele era um desses artistas completos, que aparecem para nos mostrar como é possível ser versátil com qualidade. Atuou como solista de música erudita, tocou em orquestra sinfônica, foi compositor, maestro, músico acompanhador, produtor artístico e professor do Conservatório Real de Liége durante 32 anos.

Um fato interessante de sua carreira, é que ele foi o primeiro trompetista a tocar o famoso Concerto de Brandemburgo nº2 de Bach (o terror dos trompetistas, rs), em um trompete piccolo moderno e, 47 dos seus alunos ganharam os primeiros lugares em competições de solistas, concorrendo com todos os instrumentos, no seu conservatório.

Enfim, foi um dos músicos e pedagogos mais importante de sua época.

Ao final de cada estudo desse método, Charlier escrevia uma série de dicas sobre o universo musical. 

Em um desses textos, ele dá 12 conselhos para os músicos que desejam tocar em uma orquestra. 

Algumas dicas são específicas para trompetistas, mas a maioria serve para todos:

CONSELHOS PARA JOVENS MÚSICOS 


1. Em uma orquestra, esteja atento e não fale enquanto uma peça estiver sendo tocada (exceto quando for absolutamente necessário).

2. Mantenha seu instrumento em perfeita ordem de reprodução e escolha surdinas que não distorçam o som em nenhuma parte do registro.

3. Não pratique alto enquanto a orquestra estiver aquecendo; evite especialmente tocar as passagens que serão trabalhadas no ensaio - isso é de mau gosto.

4. Não vire as páginas ruidosamente, principalmente quando a orquestra estiver em silêncio.

5. Esteja sentado em sua cadeira a tempo e, durante os ensaios, saia o menos possível.

6. Puxe as bombas de afinação para fora gentilmente, com as válvulas abaixadas para não fazer o ar comprimido estourar.

7. Não sopre forte o instrumento provocando ruídos para drená-lo de umidade. O sopro suave e mais prolongado é muito mais eficaz.

8. Afine e ajuste seu instrumento antes de começar. Ao tocar em um concerto, verifique se a temperatura da sala difere da temperatura do camarim. Lembre-se de que o calor altera a afinação do instrumento.

9. Se você for tocar alguma parte fora do palco, lembre-se de que o instrumento soará mais piano e a afinação cairá com a distância. Portanto, faça um teste com antecedência para ver em que volume e afinação você precisa tocar.

10. Conte os compassos com cuidado e esteja sempre atento às sugestões impressas. Enquanto erros podem ocorrer durante a contagem, sempre é possível confiar em sugestões.

11. Siga as indicações do maestro. Esteja alerta e preparado para se adaptar a mudanças de equilíbrio ou fraseado exigidas.

12. Esteja preparado para diminuir ou aumentar seu volume como parte de uma equipe.

E o próprio Charlier conclui:

Se você seguir estas sugestões, seu trabalho será bem visto!

Grande abraço,
Paulinho

São Paulo, 02 de setembro de 2019.
Paulo Viveiro - Porquê Estudar

POR QUE É PERIGOSO APENAS QUERER IMPRESSIONAR OS OUTROS TOCANDO?


Porque nunca conseguirá impressionar a todos e, isso pode causar certa frustração com o tempo.

Se conseguir impressionar as pessoas alimentará seu ego, se negativo, o machucará, e nenhuma das duas situações são benignas.

Há um trecho do livro "Nuvem Vazia - Os Ensinamentos Zen de Hsü Yun", que explica o que desejo dizer:

               "Tentar satisfazer as demandas do ego é como tentar nomear o número mais alto. Não importa quão grande seja o número em que possamos pensar, sempre poderemos acrescentar algo para termos um número ainda maior. Não há como atingir o último número."

Simplificando muito, toque para emocionar as pessoas, será mais benéfico para você e mais prazeroso para todos os que te ouvem.

Se a mensagem que sai do seu instrumento é verdadeira, não há a necessidade de impressionar ninguém.

Grande abraço,
Paulinho

São Paulo, 23 de agosto de 2019.
Paulo Viveiro - Pensamentos Negativos

POR QUE - EM ALGUNS CASOS - QUANDO ESTAMOS TOCANDO, PENSAMOS APENAS NO QUE PODE DAR ERRADO?

Todos nós temos no nosso cérebro algo chamado "Sistema de Ativação Reticular - SAR". Uma rede de neurônios localizada no tronco cerebral, que se projeta anteriormente ao hipotálamo para mediar o comportamento.

Explicando de forma simples, o "SAR" é uma pequena parte do nosso cérebro que, entre outras coisas, é responsável pela relação sono e vigília, pela atenção seletiva e pela filtragem das informações que processamos.

Ele diz a sua mente o que é importante ou não.

O interessante é que você - mesmo sem saber - o comanda.

Então, se tem o hábito de pensar nas coisas negativas ou que podem dar errado, ele sempre vai repetir esse padrão de comportamento.

E por que ele faz isso?

Porque há algo chamado "Confirmation Bias", um tipo de viés cognitivo e um erro de raciocínio indutivo, que faz a sua mente direcionar a atenção para coisas que ela acredita, pois confirmam seu filtro de crenças e hipóteses.

Se no dia a dia, quando está se preparando, deixa espaço para dúvidas ou alimenta "fantasmas" na sua mente. Na hora "H" o Sistema de Ativação Reticular vai repetir esse comportamento.

Como mudar isso?

Existem diversas formas, mas uma muito simples - como estratégia inicial - é o uso da "Prática Mental" ou "Visualização" na rotina diária de estudos.

Antes de pegar o seu instrumento e efetivamente tocar a música desejada, faça o solfejo, cante o trecho desejado e após ter concebido de forma clara como deseja soar, feche os olhos e imagine-se tocando, acertando todas as notas e sinta-se feliz com essa conquista.

Faça isso algumas vezes e depois toque!

Com o tempo, seu cérebro vai codificar essas imagens que você criou como memória real, e isso vai mudar o seu sistema de filtro.

Quanto mais imaginar e sentir, de forma vívida como deseja tocar, mais fácil será para o seu cérebro conceber o som que deseja.

E de efeito "colateral":

1. Desenvolverá e melhorará suas habilidades técnicas;

2. Aumentará sua confiança e segurança no palco.

Como você alterou o modo de comportamento do seu Sistema de Ativação Reticular, ele estará interessado em reconhecer padrões positivos e não os negativos.

Em vez de ficar pensando em tudo que pode dar errado antes de tocar, você simplesmente vai tocar.

Não conseguimos controlar todas as variáveis para uma apresentação ser perfeita, mas podemos controlar as nossas reações frente às alterações emocionais e psicológicas que ocorrem em uma performance real.

Assim, toda experiência será uma oportunidade de crescimento pois você ativou seu córtex cerebral para dar atenção à tudo que está dando certo, não o contrário! ;)

Grande abraço,
Paulinho

São Paulo, 20  de agosto de 2019.
Paulo Viveiro - Porquê Estudar

3 PASSOS PARA LIDAR COM AS ADVERSIDADES E VENCER OS OBSTÁCULOS

Há muito tempo, um rei insatisfeito com a forma que seu povo estava se mostrando indolente e arrogante, decidiu dar-lhes uma lição.

Seu plano era simples: colocaria uma pedra bem grande no meio da estrada principal, bloqueando totalmente a entrada para a cidade.

Depois se esconderia ali perto e observaria as reações dos súditos.

Como reagiriam? Se juntariam para removê-la? Ou desanimariam, desistiriam e voltariam para casa?

Cada vez mais decepcionado, o rei observou súdito após súdito deparar-se com o obstáculo e voltar atrás. Ou, na melhor das hipóteses, tentar sem muito entusiasmo antes de desistir.

Muitos abertamente queixavam-se ou xingavam o rei, a sorte ou lamentavam a inconveniência, mas nenhum conseguiu fazer qualquer coisa a respeito.

Passaram-se muitos dias até que um camponês solitário se aproximou a caminho da cidade.

Ele não virou as costas!

Pelo contrário, forçou e forçou, tentando tirar a pedra do lugar.

Então, teve uma ideia: procurou num bosque ali perto algo que pudesse usar como alavanca.

Finalmente, voltou com um galho grande que havia talhado na forma de um pé de cabra e usou-o para desalojar da estrada a rocha maciça.

Debaixo da pedra havia uma bolsa com moedas de ouro e um bilhete do rei, dizendo:

            "O obstáculo no caminho é o caminho! Jamais esqueça: dentro de cada obstáculo existe uma oportunidade para melhorar a sua condição.”

Por que compartilhei essa história?

Hoje, mais do que nunca, precisamos de uma abordagem simples e objetiva para superar obstáculos e prosperar em meio ao caos.

Segundo Ryan Holiday, autor do livro "The Obstacle Is The Way", superar obstáculos é uma disciplina composta de três passos: PERCEPÇÃO, AÇÃO e VONTADE.

Resumindo bem essas etapas, devemos:

1. Observar a forma como olhamos para nossos problemas específicos, nossa atitude ou abordagem;

2. Direcionar nossa energia e a criatividade com a qual ativamente derrubamos os obstáculos e os transformamos em oportunidades;

3. Cultivar e fazer a manutenção de uma vontade interior que nos permita lidar com derrotas e dificuldades.

Como já dito, são três disciplinas interdependentes, interconectadas e fluidamente contingentes: Percepção, Ação e Vontade.

Tendo essas informações em mente, quando for estudar seu instrumento, aproveite cada momento e desfrute do processo.

Cada dificuldade será uma oportunidade de crescimento!

E claro, o erro faz parte do processo de aprendizagem, entretanto busque sempre soluções inteligentes, criativas e objetivas.

Divirta-se tocando e lembre-se: uma nota errada pode se tornar a certa, o silêncio não!

Grande abraço,
Paulinho

São Paulo, 14 de agosto de 2019.
Paulo Viveiro - Porquê Estudar

COMO FAZER SEU ESTUDO DIÁRIO SER EFICIENTE E OBJETIVO COM APENAS UMA PERGUNTA


Será que existe uma ferramenta secreta para alguns profissionais estarem sempre evoluindo e outros não?

Bem, secreta não é...
Mas existe uma enorme diferença conceitual entre artistas de alto rendimento e músicos medianos.

Esta diferença reside na: PREPARAÇÃO.
Preparação é a chave de tudo e, saber O QUE, COMO e POR QUÊ estudar faz toda a diferença!

Quando estamos no começo da carreira, normalmente sabemos O QUE estudar.
Nossos mentores nos dizem quais exercícios devemos praticar e o fazemos.

Depois, com o tempo, aprendemos COMO estudar.
Testamos diversas maneiras de prática até encontrarmos aquela que melhor se adapta às nossas necessidades e seguimos em frente.

Entretanto, há um número muito pequeno de pessoas que entendem o POR QUÊ estudar.

E é nesse grupo de pessoas que devemos estar!

Quando descobrimos o nosso por que, desenvolvemos:

1. Motivação para a repetição diária de inúmeros exercícios;

2. Propósito na atividade que estamos exercendo;

3. Compreensão de qual será a habilidade a ser desenvolvida em cada etapa do processo de aprendizagem;

4. Aumento da produção de neurotransmissores positivos – principalmente a dopamina – aumentando a sensação de bem-estar.

Mas achar o “Por quê” não é uma tarefa simples, pois necessita reflexão e experiência.

Quando dou aulas ou Masterclasses sobre performances musicais, questiono ao menos 3 VEZES, por que a pessoa pratica aquele exercício daquela forma.

As respostas, no geral, seguem uma ordem interessante:

O primeiro POR QUE, geralmente é superficial;

O segundo, mostra um pouco mais de objetivo e, por fim, no terceiro começamos a ancorar propósito ao nosso tocar.

Música é uma forma de comunicação com expressão e, para isso ocorrer de forma natural com o público você deve saber POR QUE está tocando seu instrumento.

Esse conceito é algo bastante antigo no meio musical, mas há um escritor americano do setor corporativo chamado Simon Sinek, que escreveu 2 livros maravilhosos:

1. Comece pelo Porquê

2. Encontre o seu Porquê

Esses livros nos ajudam a ter uma visão mais ampla sobre esse tema.

Sinek define sua teoria como “Círculo Dourado”, onde mostra a diferença entre as pessoas e corporações que sabem O QUE, COMO e PORQUÊ fazem o que fazem.

Então, quando for estudar seu instrumento, pergunte a si mesmo:

Por que estou estudando tal exercício e, de que maneira obterei o maior resultado do mesmo?

Grande abraço,
Paulinho

São Paulo, 07 de agosto de 2019.
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5 DICAS DE COMO ESCOLHER UM BOM PROFESSOR


Esses dias fui questionado sobre algumas metodologias de ensino utilizada por professores de música e gostaria de compartilhar algumas ideias com vocês.

Durante minha juventude, tive a felicidade de ter professores excelentes que, fizeram uma diferença tremenda na minha carreira. Com o avanço da tecnologia, tenho visto que ficou muito mais fácil a possibilidade de fazermos aulas com qualquer pessoa que desejamos. Claro que nem todos estão disponíveis, mas saber escolher um bom professor é o primeiro passo para o sucesso. ;)

Tendo como base o livro "The Talent Code" do Daniel Coyle, montei uma compilação de 5 dicas de COMO ESCOLHER UM BOM PROFESSOR: 

1) Procure alguém que seja HONESTO 

Em primeiro lugar, seu professor deve ser capaz de mostrar tudo o que deseja musicalmente. Quando há conhecimento profundo e verdadeiro, há honestidade.

O professor que, de forma gentil, é honesto com o aluno, o ajuda a desenvolver a habilidade da crítica construtiva e, o inspira a buscar pela capacidade intelectual necessária para a evolução artística. 

2) Procure alguém que você ADMIRE

Quando tocamos para um músico que admiramos, ficamos nervosos. Ninguém deseja ficar errando o tempo todo na aula, entretanto lidar com grandes mentores costuma ser um pouco desconfortável. Afinal, você deseja ser capaz de mostrar tudo o que estudou, mas a exposição a esse tipo de situação, de forma controlada, fará com que você evolua cada vez mais. 

3) Procure alguém que dê INSTRUÇÕES CLARAS 

Bons mentores são capazes de ir direto ao ponto, conduzindo o aluno ao objetivo de forma específica e simples. Seu professor, deve saber lhe dizer de forma clara, o que está soando bem e o que não está. 

4) Procure alguém que ADORE ENSINAR O BÁSICO
 
Quanto mais desenvolvido o músico é, mais ele pratica os fundamentos do seu instrumento. É comum grandes professores passarem uma sessão inteira focados em apenas um princípio básico − por exemplo, a forma de tocar uma nota X, ou fazer uma frase Y.

Esse tipo de profundidade pode parecer estranha, mas isso reflete o entendimento de uma verdade fundamental: os princípios básicos são a essência de qualquer habilidade. 

5) Se houver empate em todos os quesitos anteriores, ESCOLHA A PESSOA MAIS EXPERIENTE 

Certa vez um colega me disse que, somente deveríamos dar aulas depois dos 50 anos. Claro que isso pode soar um exagero, entretanto o principio por trás desse tipo de pensamento deve ser levado em conta.

Ensinar é como qualquer outro talento: leva tempo para ser aprimorado.
 
Não estou dizendo que não há bons professores de 30 anos, mas se em todos os quesitos houver empate, escolha a pessoa mais experiente. 

Esses são apenas alguns quesitos que devem ser levados em conta na hora de escolher quem vai te ajudar a trilhar o seu caminho.

Por fim, seu professor deve ser capaz de descobrir quem você é − o que você quer, de onde vem e, o que o motiva!

Grande abraço,
Paulinho

São Paulo,  27 de abril de 2019.

Semanalmente envio informações para os colegas que desejam saber como se tornar uma pessoa positiva e confiante no palco.

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DESCUBRA COMO OS GRANDES MÚSICOS PENSAM E AGEM

PAULO VIVEIRO
Paulo Viveiro
Apaixonado por música, busca transformar seu instrumento em uma ferramenta de felicidade!

Seu sonho é que todos os músicos consigam desfrutar positivamente de suas performances.

Por meio de intensa pesquisa nas áreas de neurociências, psicologia, filosofia e etnomusicologia, compilou uma série de estratégias que tornam o músico mais bem preparado e confiante.

Considerado um dos trompetistas brasileiros de maior destaque dentro de sua geração, tem ministrado diversas Masterclasses na América Latina e Europa sobre os aspectos físicos e psicológicos da performance musical.

Junto ao projeto “Gafieira São Paulo” ganhou o “22º Prêmio da Música Brasileira” e com o cantor Seu Jorge dois “Latin Grammy”.

Gravou centenas de artistas e trilhas sonoras para filmes e publicidades.

Como solista ou atuando com ensembles diversos tocou em 13 países, 3 continentes e todos os estados brasileiros.